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Como são feitos os materiais educativos do Museu da Imigração?
O material educativo é uma publicação impressa ou digital que traz conteúdos e propõe reflexões sobre um tema. Quando publicado por instituições culturais, comumente são desenvolvidos a partir de uma exposição em cartaz.
Desenvolver um material educativo envolve pensar em diversos aspectos: seu conteúdo; a que público se destina; seu conceito; sua identidade visual; seu formato; seu objetivo pedagógico, entre outros. A relação entre esse conjunto de elementos torna singular o processo criativo de cada material entregue ao público.
O Núcleo Educativo do Museu da Imigração, desde a reabertura do museu em 2014, desenvolve materiais educativos para as exposições produzidas ou recebidas pelo museu. Ao todo, já foram produzidos 15 materiais. Todos eles possuem uma versão digital e estão disponíveis para download gratuito no site do museu. Para que você possa conhecer e refletir sobre os processos criativos desses materiais, vamos apresentar alguns deles aqui.
A primeira publicação foi o material para a exposição de longa duração “Migrar: Experiências, Memórias e Identidades”, impresso em fichas e dois caderninhos. Por ser o primeiro, foi incumbido a ele a responsabilidade de apresentar o museu ao público escolar, o mais expressivo entre os visitantes da instituição. Sendo assim, para além dos conteúdos da exposição, acrescentamos informações sobre os tipos de acervo salvaguardados pelo museu, imagens do acervo iconográfico e de objetos museológicos e diversas propostas de atividades. O formato escolhido para essa edição favorece a ideia de articular as informações disponíveis, aproximando e reorganizando as fichas. Assim, o professor poderia repensar as formas de utilizar o material de acordo com seu plano de aula e o ciclo escolar dos estudantes.
Para a exposição “Imigrantes do Café”, diferentemente do anterior, foi proposto um material em formato de jornal. Consideramos que este formato dialogaria com o tema e o recorte histórico da exposição. A sala do Núcleo Educativo transformou-se em um editorial; cada educador pesquisando sobre um aspecto do tema proposto, deslocou-se do seu tempo e produziu uma notícia como se vivesse no início do século XX. Como o material também foi desenvolvido para que o professor trabalhasse em sala de aula, ao final de cada notícia inserimos algumas atividades que poderiam ser adaptadas a diversas faixas etárias, além da possibilidade de trabalhar com o gênero textual jornalístico.
Em 2016, o Museu abriu uma exposição chamada “O Caminho das coisas”. A proposta era apresentar ao público os processos museológicos aos quais os objetos são submetidos a partir do momento em que são aceitos como acervo: documentação, pesquisa, conservação e comunicação; além disso, mostrava as dificuldades enfrentadas ao trabalhar com objetos quando estes possuem poucas informações atreladas. O material em formato de livreto, desta vez voltado ao público infantil e seus acompanhantes, propõe a interação entre o grupo familiar e corrobora para o entendimento de que há atividades divertidas para o público infantil nos museus. Valendo-se da proposta de investigação do acervo presente na exposição, as atividades desse material convidam as crianças a olhar os objetos com atenção, perceber suas cores, formas e texturas, propõe que as crianças brinquem de assumir as funções dos profissionais do museu, fazendo perguntas aos objetos e aprendendo com as respostas que a materialidade dos objetos é capaz de oferecer.
Outra exposição de 2016 foi a “Direitos Migrantes”, que tratava do tema da imigração contemporânea a partir dos direitos humanos, propondo a sensibilização do público frente às barreiras físicas, burocráticas e simbólicas que são impostas aos imigrantes. Com caráter panfletário, o material educativo dessa exposição foi elaborado em formato de cartaz, de um lado com palavras de ordem escritas em diversas línguas e, no verso, conteúdos relacionados aos eixos da exposição: fronteiras, mobilização por direitos e participação política, cultura como resistência e protagonismos das mulheres migrantes. Esse material também teve como público alvo os professores e, por esse motivo, o cartaz é acompanhado de um caderno de atividades multidisciplinares.
Ao encerrar as exposições, o que fica além dos registros – sejam eles fotografias ou vídeos – são as publicações (folders, materiais educativos, textos publicados no blog do CPPR, entre outros), que além de darem ao público a dimensão do que foi a exposição, possuem uma vida própria, no sentido de que podem ser consultados e ressignificados mediante o interesse da pessoa que os aciona.
Boa parte dos materiais educativos do Museu da Imigração tem como alvo o público escolar. Como já mencionado, isso se dá, principalmente, por se tratar do público mais expressivo no atendimento do Núcleo Educativo. Em cada encontro com as escolas, considerando que são grupos com personalidades, visões de mundo e intenções diferentes, são produzidos novos conteúdos e/ou são aprofundadas reflexões dos educadores referentes a esse espaço e aos conteúdos abordados pelas exposições. Ao criarmos um material educativo, procuramos trazer para a publicação as percepções dos trabalhos cotidianos com o público. A visita, por se tratar do trabalho mais volumoso de um Núcleo Educativo, contém especificidades que reverberam em outras ações e projetos. Por exemplo: ao preparar um roteiro de visita, o educador, assim como o curador, cria, interpreta, ressignifica e recorta a exposição de acordo com o perfil e interesse do público. Isto é um método; uma tecnologia desenvolvida pelos educadores e que pode ser utilizada para estruturar materiais educativos.
Para aproximar o público espontâneo dessa tecnologia produzida pelo Núcleo Educativo, propusemos para a exposição “Hospedaria 130” roteiros temáticos de visita que criam interlocuções entre as exposições (temporárias e de longa duração), o edifício do museu e a cidade. Os roteiros temáticos são lentes que ampliam aspectos do tema central presentes nas exposições. O visitante que escolhe usar o material educativo é instigado a refletir sobre o mesmo espaço de maneiras e olhares diferentes. O mesmo método foi utilizado para a criação do material para a exposição “Sinta-se em casa”, aberta ao público no dia 1 de dezembro deste ano. Esses roteiros não propõem que o visitante percorra por todos os espaços do museu, mas, a partir do momento em que se abre para a reflexão proposta pelo material, perceba, entre outras coisas, as relações temáticas entre as exposições temporárias e a exposição de longa duração do museu. Sendo assim, como nos materiais apresentados anteriormente, os roteiros ainda podem ser utilizados pelos visitantes mesmo depois que as exposições saem de cartaz.
A diversidade de métodos adotados para a feitura dos materiais educativos apresentados, observada nos múltiplos formatos, abordagens e objetivos pedagógicos, refletem a multidisciplinaridade da equipe, as pesquisas individuais de cada educador, suas habilidades específicas e suas visões de mundo relacionadas ao espaço e aos temas do Museu da Imigração.