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Vitrine do acervo: Retrato de Yampei Kikuchi
Neste ano, o Museu da Imigração realizou a primeira edição do Programa de Residência Artística. A relação entre arte e migração, no entanto, não é novidade ao longo da história e pode ser pensada a partir de várias abordagens. Apresentamos aqui, nesta vitrine, um retrato em pastel de Yampei Kikuchi, conforme inscrição a lápis no chassi. A partir do conhecimento em língua japonesa de um de nossos pesquisadores, pudemos inferir que a inscrição localizada no canto inferior direito pode ser o título da obra, “O estudante que atravessa a noite” (夜う字生).
Esse quadro, parte de nosso acervo museológico, foi assinado por C. Cazaki, com a data de 1930, e foi doado ao Museu por Maria Eugenia Vasconcellos Lopes de Oliveira. Segundo as informações contidas no processo de doação, o sr. Kikuchi migrou para o Brasil com sua esposa Haruko e a filha Kimiko em 1924, atuando como médico da colônia japonesa. Morou na região de Registro/Eldorado e posteriormente em Araçatuba, onde faleceu no ano de 1944. O retrato pertencia a sra. Kimiko Kikuchi, que o ofereceu de presente a amiga, Maria Eugenia Vasconcellos Lopes de Oliveira.
A prática do retrato está presente na história da arte desde a Antiguidade, revelando importantes questões sociais ao longo do tempo, possuindo, por isso, um rico valor documental. A ideia da representação da própria imagem relaciona-se, por exemplo, ao desejo da memória e da posteridade, uma espécie de anseio pela imortalidade. Além disso, auxilia no processo de construção de uma imagem, tanto para si mesmo quanto para os outros.
Ao olhar para esse retrato, podemos nos questionar sobre quais traços seu autor quis destacar e sobre o que pretendia ressaltar. Não há nenhuma referência a objetos médicos, que o vinculem a sua profissão. É um retrato que valoriza sua fisionomia e mais alguns detalhes: óculos redondos e a gravata fina, tendências do período de produção do retrato. Há um trabalho interessante com a cor amarela para demarcar a incidência de luz, principalmente no lado esquerdo de seu rosto. Podemos, inclusive, nos questionar se houve intencionalidade na utilização desse tom, tratando-se da representação de um imigrante vindo do Japão.
Na mitologia clássica europeia, Narciso se debruça sobre o lago e se encanta com próprio reflexo – a relação do homem com sua autoimagem é longínqua e ampla. Aqui, a pergunta restará sempre aberta a interpretações: quem é o sr. Kikuchi que nos olha e se faz mostrar a partir deste retrato?