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A Hospedaria de Imigrantes de Campo Limpo
Em outras publicações, aqui no blog do CPPR, já tivemos a oportunidade de mencionar que a Hospedaria de Imigrantes do Brás teve vários usos durante sua história. Funcionou, por exemplo, como hospital, presídio, abrigo, depósito, etc.
Em 22 de agosto de 1942 o Brasil entra na Segunda Guerra Mundial e estabelece uma parceria com a Embry-Riddle School, uma empresa que formava pilotos e técnicos de manutenção de aeronaves para o governo dos Estados Unidos.
Levando em consideração a diminuição do fluxo migratório para o Brasil durante a guerra o governo do estado de São Paulo cede para o Ministério da Aeronáutica o prédio da Hospedaria de Imigrantes do Brás. Assim, em 1943, é instalada no edifício da hospedaria a Escola Técnica de Aviação, que subsiste até 1951.
A Segunda Guerra Mundial, como se sabe, produziu uma quantidade enorme de refugiados, milhões de pessoas tiveram que escapar ao avanço nazista, outros milhões foram forçados a se deslocar para trabalhar em fábricas e/ou estiveram em campos de concentração.

Em 1947 a O.I.R (Organização Internacional de Refugiados) revelou que existiam cerca de 700 mil refugiados vivendo na Alemanha e na Áustria, a maioria destes não desejava voltar aos seus países de origem. Eram principalmente tchecos, iugoslavos, romenos, búlgaros, russos, poloneses, lituanos e ucranianos.
Desde 1947 o Brasil se comprometeu a receber tais pessoas e assim os serviços da O.I.R, em São Paulo, foram coordenados pelo Serviço de Imigração e Colonização e pelo Departamento de Imigração e Colonização. Porém, como mencionado, até 1951 a Hospedaria de Imigrantes do Brás serviu como Escola Técnica da Aeronáutica. Dessa forma foi necessário, nesse período, encontrar um local diferente para abrigar tais deslocados de guerra. A região escolhida foi Campo Limpo Paulista, antigos galpões que serviam como depósito de café se transformaram na Hospedaria de Imigrantes do Campo Limpo, a hospedaria que abrigou refugiados e descolados de guerra, em São Paulo, de 1947 até 1951.

Em 1947 passaram por Campo Limpo pouco mais de 2,5 mil pessoas, em 1948 quase 4 mil e em 1949 um número próximo de 5 mil pessoas. Os poloneses compreenderam 28% da população da hospedaria (nesse triênio citado), seguidos pelos ucranianos (12%), baltas, (7%), húngaros (7%), russos (7%), iugoslavos (7%), apátridas (7%), tchecos (2,5%), outros (15%) e registros sem informação. Uma parcela significativa desses documentos diz respeito a operários qualificados (profissão declarada), técnicos e profissionais com nível médio e superior. Tais operários eram serralheiros, automecânicos, eletricistas, torneiros-mecânicos, marceneiros, soldadores, etc. Isso evidencia uma característica diferente desse fluxo migratório comparado àquele da “Grande Imigração” (1880-1930) em que predominavam os agricultores ou pelo menos o direcionamento de pessoas para o trabalho na lavoura.
Em 1951 a Hospedaria de Imigrantes do Brás é devolvida para a Secretaria da Agricultura e volta a exercer sua função original de acolhida para migrantes. A O.I.R é substituída pelo CIME (Comitê Intergovernamental para Migrações Europeias), que assina acorda com o Brasil a continuidade do fluxo migratório de europeus para o território brasileiro.

Os registros de quem passou pela Hospedaria de Imigrantes do Campo Limpo estão disponíveis para consulta no Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Fontes Bibliográficas:
PAIVA, Odair da Cruz. Intolerância e exclusão: refugiados e deslocados de guerra em São Paulo (1947-1951). Anais do XVII Encontro Regional de História - O Lugar da História. ANPUH/SP - Unicamp, 2004. Disponível em: https://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XVII/ST%20XXV%20-%20II/Odair%20da%20Cruz%20Paiva.pdf. Acesso em 06.05.2019.
SALLES, Maria do Rosário Rolfsen. Território e experiencia imigratória: os refugiados em São Paulo no pós Segunda Guerra Mundial. Cadernos Metrópole 20, 2008. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/metropole/article/view/8692. Acesso em 06.05.2019.