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Hospedaria de histórias: Norte Coreanos na Hospedaria do Brás - como esses registros nos ajudam a estudar história
Conhecer a história da Hospedaria de Imigrantes e das pessoas que passaram por ela nos ajuda a entender diversos processos históricos que ocorreram no mundo. Em 1956, por exemplo, três imigrantes da Coreia do Norte foram matriculados na hospedaria – Kong Jim Kim e Tae Hoon Seok, nascidos em Chongjin e Seok Lim Kim, nascido em Pyongyang.

Os registros de matrículas trazem detalhes interessantes: dois deles são presbiterianos e um católico, não migraram para o Brasil por meio de um navio, (na verdade viajaram de avião, pela Air France, e desembarcaram no aeroporto do Rio de Janeiro) e, além disso, todos viveram por dois anos na Índia, mais precisamente em Nova Deli, antes de pousarem em solo brasileiro.
Como entender a chegada desses três migrantes no estado de São Paulo e sua passagem pela Hospedaria?
Resumidamente, em 1910 o Império do Japão anexou, oficialmente, a Coreia aos seus territórios. O Império Japonês, como se sabe, foi um dos grandes derrotados na Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Com o fim da guerra o território coreano foi dividido em duas zonas: a parte norte ocupada pela União Soviética (socialista) e a parte sul ocupada pelos Estados Unidos (capitalista). Após tratativas fracassadas de reunificação das Coreias, se deu formalmente, em 1948, a divisão que conhecemos hoje por Coreia do Norte (República Popular Democrática da Coreia) e Coreia do Sul (República da Coreia).
Em 1950 tropas da Coreia do Norte invadem o território sul coreano e chegam a tomar a capital, Seul. De 1950 até 1953 ocorreram diversas batalhas com combates violentos e significativa atuação militar de tropas da ONU, dos Estados Unidos e China.
A Índia também participou do conflito enviando, primeiramente, unidades médicas para cuidar dos soldados feridos (os indianos trataram por volta de 200 mil feridos) e depois, em 1953, soldados indianos foram encarregados de supervisionar os prisioneiros de guerra (de ambos os lados) e resolverem questões relativas às suas repatriações. Além disso, a Índia teve um papel muito importante na resolução do conflito sob o ponto de vista político e diplomático.
Enquanto mais de 80 mil prisioneiros foram repatriados para a Coreia do Norte, mais de 20 mil resolveram permanecer na Coreia do Sul. Além desses, 88 decidiram ficar em Nova Déli, na Índia. Em 1956 a ONU negociou com alguns países o deslocamento desses coreanos (e chineses) que haviam se estabelecido na Índia. Brasil e Argentina aceitaram recebê-los e é nesse contexto que ocorre a chegada de dezenas de norte coreanos em território brasileiro, para reconstruir suas vidas. Três deles, como vimos acima, passaram pela Hospedaria de Imigrantes do Brás.
Uma curiosidade: o cineasta coreano Cho Kyeong-Duk veio à América do Sul há pouco tempo no intuito de gravar um documentário com esses ex-prisioneiros de guerra, ainda vivos, que desejam voltar para sua terra natal.
Fontes:
NABARUN, Roy. India’s Forgotten Links To The Korean War. Disponível em: <https://thediplomat.com/2018/10/indias-forgotten-links-to-the-korean-war/>
PARK, Hea Jin. North Korean POWs seeking last chance to return home after decades in exile. Disponível em: <http://theconversation.com/north-korean-pows-seeking-last-chance-to-return-home-after-decades-in-exile-79929>