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Hospedaria de histórias: o Kasato Maru e a Hospedaria de Imigrantes do Brás
Imagem: Partida de imigrantes japoneses em Kobe, Japão. Acervo Museu da Imigração/APESP
Nomes de navios que trouxeram imigrantes para a América são, geralmente, poucos conhecidos pela maioria das pessoas. Se saíssemos à rua e perguntássemos quais nomes de navio elas sabem, certamente ouviríamos muitas vezes Titanic. É, sem dúvida, o navio mais famoso. Provavelmente algumas outras pessoas diriam:
- Tem aquele navio japonês também, que trouxe os imigrantes japoneses... Kasato Maru!
De alguma maneira o nome do navio que conduziu os primeiros imigrantes japoneses para o Brasil ficou marcado pela história e tornou-se, ademais, sinônimo da imigração ao nosso país. Muitos capítulos da história têm fatos, personagens e/ou objetos que, em razão das narrativas construídas, se transformaram em porta-vozes ou símbolos de determinado fenômeno histórico. Assim, por exemplo, a Queda da Bastilha é um fato símbolo da Revolução Francesa, Tiradentes é o personagem ícone da Inconfidência Mineira e a Carta de Pero Vaz de Caminha objeto emblemático do “descobrimento do Brasil”.
O nome Kasato Maru, no que diz respeito a memória da imigração para o Brasil, sofreu processo semelhante. Afinal, qual o navio que trouxe os primeiros italianos, espanhóis, sírios e libaneses? Aliás, essas informações existem? O que sabemos – o que a história nos deixou até então – é o nome do navio que transportou os primeiros japoneses.
Esse breve artigo não procura desenvolver reflexões profundas, mas trazer certas informações sobre nosso famoso protagonista em questão.

Esse breve artigo encontra-se no blog do Museu da Imigração, integrando a série “Hospedaria de Histórias”, porque um capítulo importante do Kasato Maru é pouco conhecido: todos os imigrantes que estavam nesse navio, nessa viagem, passaram pela Hospedaria de Imigrantes do Brás. Passaram a noite do dia 18 a bordo e no dia 19 rumaram de trem à hospedaria.
Amândio Sobral, então inspetor da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, escreveu para o jornal Correio Paulistano no dia 26 de junho de 1908 um dos relatos mais ricos de informações sobre a chegada do Kasato e a experiência da passagem desses imigrantes na hospedaria. Sabemos assim que tais imigrantes eram de 11 províncias japonesas: Tóquio, Cagochima, Cumamôto, Fukuchima, Okinawa, Ehimé, Yamaguchi, Hiroshima, Cochi, Niigata e Yamanachi. A maioria sendo de Okinawa, Cagochima e Yamaguchi. Foram distribuídas 772 pessoas por seis fazendas do interior de São Paulo. Mais de 200 foram enviados para a fazenda Dumont. Pouquíssimos permaneceram na capital. Da mesma maneira eram poucas as crianças: 8 com menos de três anos, 4 de três a sete anos, 4 de sete a doze anos. Mais de 500 sabiam ler e escrever. Trouxeram mil e cem malas.
Deixamos disponível neste link a lista de bordo digitalizada do Kasato Maru e fica também a sugestão de leitura do relato de J. Amândio Sobral, mencionado no parágrafo acima.


Bibliografia:
Comissão de Elaboração da História dos 80 Anos da Imigração Japonesa no Brasil. Uma epopeia moderna: 80 Anos da Imigração Japonesa no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1992.
SPINELLI, Kelly. C. O Kasato Maru e a Epopeia dos Primeiros Japoneses no Brasil. In. Revista História Viva: Japão, 500 anos de história, 100 anos de imigração. São Paulo: Duetto Editorial, 2008.
História do navio Kasato Maru. Disponível em: http://www.imigracaojaponesa.com.br/?page_id=259. Acesso em 08/12/2016