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Peça a peça: conhecendo a exposição de longa duração do MI – Acordeão Dallepè
Um dos objetos mais apreciados pelo público do Museu da Imigração é um instrumento musical que se encontra exposto no Módulo 4 de nossa exposição de longa duração “Migrar: experiências, memórias, identidades”. Trata-se de um acordeão de sessenta e quatro baixos, cujo corpo é composto de madeira, com a lateral direita em metal com ornamentos vazados, além de vários detalhes também em metal, inscrições e incrustações de madrepérola, e um pequeno retrato de Mariano Dallepè, fundador da marca, emoldurado em vidro. A peça apresenta um total de cinquenta e seis botões – um deles faltante –, fole pregueado em tecido na cor vermelha e duas correias em couro – sendo que uma delas encontra-se partida. As peças apresentam sinais de desagaste ocasionados por seu uso quando ainda cumpriam sua função original, mas também certa deterioração natural provocada pela passagem do tempo.

No histórico de doação da obra, consta apenas o nome do doador, Nirvana Martins Negro, e a informação de que a peça pertenceu à família por sessenta anos. Sua origem foi designada como sendo italiana, com as seguintes especificações: Stradella, Lombardia, Pavia – referentes a uma localidade no norte da península.
Embora as informações registradas sejam escassas, uma observação atenta da peça nos ajuda a compreendê-la um pouco melhor. Todo o requinte de seus ornatos já é o anúncio de uma história interessante. As inscrições do fabricante são uma pista valiosa para iniciarmos nossa investigação: CAV. M. DALLAPE &; FIGLIO; STRADELLA (ITALIA); ou seja, trata-se da italiana Fabbrica Armoniche Dallapè Mariano & Figlio. Segundo nosso banco de dados, ele data do século XIX, mas um acordeão de modelo muito semelhante a este foi datado pelo Civico Museo della Fisarmonica "Mariano Dallapè", como de 1910.
Adentrando na história do fabricante, descobrimos também que a marca, fundada em 1876 em Stradella, na província de Pavia, por Mariano Dallapè, tem a ver com a própria origem do instrumento. Segundo o website da empresa, tudo começou quando Mariano se viu obrigado a consertar um antigo órgão austríaco que possuía, com o qual ganhava algum dinheiro em momentos de necessidade. Ao trabalhar neste órgão que se encontrava danificado, Mariano viu-se com um novo instrumento nas mãos. Continuou então trabalhando para aperfeiçoa-lo e teve um excelente resultado: o acordeão como o conhecemos hoje. Aclamado internacionalmente, os acordeões tiveram sua autoria reconhecida inclusive da Enciclopédia da Música Italiana – e de lá, se espalharam pelo mundo. Também conhecido popularmente como gaita ou sanfona, esse instrumento faz, inclusive, parte de inúmeros ritmos brasileiros na extensão de todo seu território.
Desde 1876, a empresa funcionou e continuou pertencendo a família Dallapè. Em 2010, devido a inúmeras dificuldades, foi obrigada a fechar suas portas; a casa, no entanto, foi transformada em um Museu – ao qual nos referimos logo acima – mas não somente: foi realizada ainda uma parceria com a empresa japonesa de instrumentos musicais Roland, que prometeu transformar o original “som Dallapé” em um novo sistema digital, que pode ser facilmente adaptado como uma opção adicional a qualquer acordeão Roland. O som icônico de Dallapé não somente foi preservado e pode ser ouvido em perfeitas condições, mas também foi expandido e reinventado, acessível a um número ainda maior de acordeonistas do presente e do futuro.
Sua presença no próprio Museo della Fisarmonica de Stradella, e possivelmente em outros acervos mundo a fora – como o Museu da Imigração – atestam a importância da preservação de peças tão emblemáticas da cultura musical mundial, seus diversos usos, adaptações e movimentações.

Links consultados:
http://www.accordions.com/roland/roland-dallape/
http://www.dallape-accordions.com/
http://www.culturaitalia.it/opencms/museid/viewItem.jsp?language=en&id=oai%3Aculturaitalia.it%3Amuseiditalia-work_6000