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Peça a Peça: Um diário de bordo
O início do ano é um momento de planejar o que se inicia; além disso, é para muitos um período relacionado a férias e viagens. Um habito comum a inúmeros viajantes é levar consigo um caderninho de anotações para realizar apontamentos práticos, impressões da viagem e registrar momentos importantes. Após o avanço das rotas turísticas e de meios de transporte ainda na Idade Moderna, muitos relatos de viagem percorreram o mundo – assim como seus autores – em volumes editados e organizados para o deleite e instrução do público. A maioria, no entanto, permanece na esfera privada dos viajantes, sendo compartilhado, no máximo, com os mais íntimos. Na primeira edição do “Peça a Peça” de 2017, apresentamos uma pequena caderneta, nomeada em nossos registros como “diário de bordo”.

Trata-se de um pequeno diário que pertenceu a Gregório Rombolá, imigrante italiano que veio para o Brasil durante a chamada Grande Imigração para trabalhar nas lavouras de café do interior do estado de São Paulo. Gregório nasceu em 1873, na província de Catanzaro, na Calábria, região sul da Itália. Com destino a Buenos Aires, Gregório deixou sua terra em 1888. Com apenas 18 anos, chegou ao Brasil em 28 de agosto de 1890 a bordo do navio Napoli. Seus registros podem ser encontrados no acervo digital no Museu da Imigração (neste link), pois foi um dos muitos imigrantes italianos a ficar hospedado na antiga Hospedaria de Imigrantes do Brás, sendo então encaminhado para trabalhar em uma fazenda de café na cidade de São Carlos do Pinhal. Ali permaneceu por trinta dias, indo em seguida para Araraquara, e depois, Jaboticabal, onde fixou residência. Casou-se com brasileira Virgilina Ferreira da Silva em 1897, com quem teve treze filhos. Em 1998, a família Rombolá doou ao então Memorial do Imigrante alguns objetos pertencentes a Gregório, entre eles este diário de bordo, bem como uma fotografia da família tirada em 1936.

Ao abrirmos essa pequena caderneta, bastante conservada, nos deparamos com algumas caligrafias diferentes: além dos escritos do próprio Gregório, podemos notar que há anotações posteriores de outras pessoas, provavelmente seus filhos, sobre a ocasião de seu falecimento (aos 65 anos), bem como o de sua esposa. No fundo do diário encontra-se guardado ainda um pequeno cartão em memória de Gregório.
O diário de bordo não conta com impressões muito pessoais; o autor limita-se em marcar as datas, horas e locais pelos quais passou em sua viagem da Itália rumo ao Brasil. Inicia-se com a seguinte sentença, de 1888: “Io, Gregorio Rombolá, oggi parto per la Merica [sic]”. Após circular por algumas cidades italianas, passa pela Espanha e de lá segue para seu primeiro destino, Buenos Aires, e então para o porto de Santos, até a cidade de Jaboticabal, onde se instalou de maneira definitiva. Ele cita, inclusive, umas das fazendas de café pelas quais passou e, na sequência, anota também o nascimento dos treze filhos.
Ao ser doado, este caderninho, fruto das experiências pessoais de Gregório, deixou o âmbito privado familiar e passou a integrar a coleção do Museu da Imigração, relacionando-se com outros objetos e nos ajudando a compreender um pouco mais sobre a experiência da migração ao redor do mundo e as formas de transmissão dessas memórias.
