Chegança: Um lugar ao sol e um lugar ao sul, é uma exposição que aborda a imigração haitiana em um interior do Brasil frio e hostil, composta por duas obras diferentes da fotógrafa Sirli Freitas, mas que se complementam em uma espécie de dialética, sendo uma como a antítese da outra. Assim, carregando de um lado a denúncia e do outro o anúncio, ambas, de forma inventiva, propõem novos imaginários, novas iconografias, e novos pontos de vista para se olhar o real, acreditando que isso também o transforma.
Deste modo, em uma das mãos, a exposição traz a obra Os Iletrados, um ensaio de retratos frios e nostálgicos, que denuncia os cruéis esquemas de poder e dominação que atravessam o mundo do trabalho e da migração nesse contexto majoritariamente branco e conservador do sul do Brasil, banhado pela agroindústria, pelo agronegócio, pelo racismo e a xenofobia.
Na outra mão, a exposição traz outra obra da fotógrafa, agora Trançando caminhos, uma instalação multimídia em collab com as trançadeiras haitianas Lutania Charles e Sophonia Elysee, que buscou registrar de maneira sensível, o processo de fazer morada longe de casa, de alguns haitianos que chegaram ao interior de Santa Catarina a alguns anos atrás. Aqui, através da fotografia, do vídeo-carta e das artes plásticas, as artistas buscaram mostrar e anunciar quais rituais, amuletos ou mecanismos, ajudaram essas pessoas a migrar e construir o seu lugar no mundo, entendendo a casa como um mar cheio de portos.
Isto dito, Chegança foi a vontade de atar essas duas mãos, para que juntas, essas duas obras conseguissem carregar a inventividade e a dialética de um olhar profundo, que nos convida a imaginar, a questionar, mas também a vislumbrar outras relações possíveis, e com elas, outros mundos também.
A exposição integra 60 pinturas, uma instalação que reproduz uma barraca de venda de tecidos da Praça da República, dois vídeos e doze poemas. No dia da estreia, os poemas serão declamados pelos poetas angolanos Ermi Pazo e Mwana N'gola.
A FOTOGRAFA | SIRLI FREITAS
Sirli Freitas é fotógrafa e jornalista, formada em Comunicação Social pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó - Unochapecó, com Especialização em Letras, língua e literatura pela mesma instituição. Ela atua como fotojornalista esportiva e documental, onde já teve suas fotos publicadas em grandes jornais e agências de fotografias nacionais, como o Estadão e a Folha de São Paulo. Apesar de o jornalismo nortear seus projetos experimentais e documentais, Sirli iniciou seu trabalho mais autoral em 2018, quando foi selecionada no Edital das Linguagens da Prefeitura de Chapecó com o projeto A casa é um mar cheio de portos, uma exposição fotográfica que teve um lançamento muito grande no município, e que segue sua distribuição pelo país, com uma agenda cheia de compromissos. Em 2019, o projeto da Margot Filmes dirigido por ela foi contemplada com o Prêmio Estadual Elisabete Anderle, onde desenvolve um projeto fotográfico envolvendo a comunidade kaingang de Chapecó. Em 2020, Sirli acaba de ser contemplada no Edital das Linguagens de Chapecó com o projeto Nós Também Somos, projeto fotográfico com a comunidade Haitiana da cidade.