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As múltiplas dimensões envolvidas no gesto aparentemente simples de se vestir podem passar despercebidas em nossa vida cotidiana. Vestir-se, porém, vai muito além da função prática de cobrir o corpo.

Nesta edição do projeto Vitrine do Acervo, apresentamos a indumentária tradicional chinesa: o qipao, ou cheongsam, nomes correspondentes nas línguas mandarim/manchu e cantonês, respectivamente.

“Quem usava qipao era chinesa.” No contexto do interior de São Paulo, nas últimas décadas do século XX, a frase de Jeanne Kuk – descendente de migrantes chineses, doadora e especialista consultada pelo Museu – refletia de maneira direta como a vestimenta podia, por um lado, marcar diferenças e reorganizar identidades. Vistos de fora da comunidade, os elementos mais gerais, como o corte da roupa, as cores e a gola, poderiam ser acionados para uma identificação rápida, muitas vezes genérica e simplificadora, de quem essas pessoas eram.

Se olharmos mais de perto, porém, veremos outros elementos que só eram visíveis de dentro da comunidade. Considerando que essas roupas, em São Paulo, eram usadas principalmente em contextos festivos ou formais, as abotoaduras – pankou – revelavam o requinte pessoal. Ideogramas, texturas em alto-relevo ou motivos florais inscritos nessas peças podem também indicar posições sociais distintas na comunidade. Nas vestimentas femininas, formatos mais curvados e cores claras associavam-se a uma imagem de juventude.

Observando o qipao ou cheongsam, percebemos como, em contextos migratórios, um mesmo objeto pode ativar dinâmicas de distinção – externas e internas ao grupo – e expressar formas de autonomia, desejadas ou exercidas.