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Hospedaria de Histórias: Ano 1905. Na Hospedaria de Imigrantes do Brás, 700 gregos do Peloponeso
A série Hospedaria de Histórias trouxe, em seu último texto, a história de um grupo de canadenses que, no ano de 1896, imigrou para o Brasil. Conseguimos conhecer um pouco mais sobre as motivações dessas pessoas em escolher o estado de São Paulo como destino de suas vidas e quais foram as consequências dessa escolha.
O objetivo desses textos é mostrar a multiplicidade étnica e cultural dos imigrantes que foram aqui recepcionados, compreender suas trajetórias e demonstrar que, de alguma maneira, acontecimentos em todo mundo reverberaram na história da nossa Hospedaria de Imigrantes do Brás. Falaremos agora de outro grupo de imigrantes que passou pela hospedaria em 1905.
Quando ouvimos alguém mencionar a palavra “Grécia”, quase automaticamente pensamos em “Antiga”. Isso porque estudamos bastante na escola somente a história da Grécia Antiga. Depois disso, os gregos desaparecem, raramente e em casos bem específicos surgem uma vez ou outra, dependendo do enfoque dado pelo professor sobre algum tema. Sendo assim, de maneira geral, desconhecemos a história da Grécia Moderna e da Grécia Contemporânea.
Em 1905 chegam à Hospedaria de Imigrantes do Brás cerca de 700 gregos. Antes deles outros já haviam aportado em terras brasileiras. Depois deles milhares de outros gregos escolherão o Brasil como país de suas novas vidas. Só por nossa Hospedaria, passaram quase 4 mil gregos, sendo o primeiro deles em 1888. Algumas estimativas sugerem um número próximo de 16 mil imigrantes, provenientes da Grécia, que chegaram ao Brasil desde meados do século XIX[1].
Por quais razões gregos, em 1905, deixaram a Grécia e viajaram ao Brasil para se estabelecer nas lavouras paulistas? Ainda que de maneira muito incipiente, a resposta a essa questão nos ajuda a compreender um pouco mais da história desconhecida da Grécia, àquela moderna e contemporânea mencionada anteriormente.
As centenas de famílias gregas que chegaram em Santos no dia 7 de setembro de 1905, citadas como de agricultores, deixaram para trás uma Grécia ainda atordoada economicamente pelas consequências da guerra contra o Império Otomano em 1897, cuja motivação principal foi a tentativa de anexação da famosa ilha de Creta, província otomana, aos territórios gregos. A guerra foi curta, durou cerca de trinta dias; a Grécia foi derrotada militarmente e teve que pagar uma indenização vultosa aos otomanos.
Aliadas a essa razão, ocorreu na Grécia uma crise no que diz respeito a comercialização das uvas. No final do século XIX as importações de vinhos gregos aumentaram significativamente na Europa. Ao longo da década de 1890 os preços do produto reduzem significativamente, da mesma forma as importações. O resultado é um aumento considerável do desemprego e extensão da crise econômica[2].
Uma das soluções encontradas pelos gregos para escapar desse cenário foi a imigração para as Américas. Assim, em agosto de 1905, gregos da região do Peloponeso partem do porto de Patras, a bordo do navio Attivita, em direção a Santos. Partiram motivados também pela propaganda brasileira. Chegam no litoral paulista no dia 7 de setembro e não puderam descer do navio e subir para a Hospedaria de Imigrantes devido às comemorações da Independência. Desembarcam no dia seguinte e, depois de uma viagem de três horas via Serra do Mar, entram na Hospedaria. Comeram feijão cozido, dormiram em esteiras, passaram frio e não receberam seus pertencentes, segundo relato do imigrante Pantelis Dimópoulos[3].
Encaminhados para a lavoura da região de Ribeirão Preto perceberam que os contratos prometidos não seriam cumpridos à risca. Tanto é que o imigrante citado acima, junto de sua família, sai da fazenda, vai ao Rio de Janeiro, pede ajuda ao cônsul da Grécia e este lhe dá dinheiro para retornar ao seu país de origem[4]. Mas essa é somente uma história. O que teria ocorrido com os outros gregos radicados em Ribeirão?
Referências:
[1] CONSTANTINIDOU, Vassiliki Thomas. Os Guardiões das Lembranças: Memória e História dos Imigrantes Gregos no Brasil. São Paulo. Ed. Do Autor, 2009, p. 10.
[2] BIRLIN, Michael. Greek Immigration to the United States. Palaiologinos, 2017. Disponível em: https://palaiologinos.wordpress.com/2017/05/14/greek-immigration-to-the-united-states/. Acesso em março de 2018; BIRLIN, Michael. The Greco-Turkish War of 1897. Palaiologinos, 2017. Disponível em: https://palaiologinos.wordpress.com/2017/04/29/the-greco-turkish-war-of-1897/. Acesso em março de 2018.
[3] CONSTANTINIDOU, Vassiliki Thomas. Os Guardiões das Lembranças: Memória e História dos Imigrantes Gregos no Brasil. São Paulo. Ed. Do Autor, 2009, p. 67.
[4] Ibid, p. 67.