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Peça a Peça: Conhecendo a exposição temporária “Sinta-se em casa” - Rádio Vitrola

A atual exposição do Museu da Imigração, “Sinta-se em casa”, apresenta ao público algumas possíveis relações entre morar e migrar. Entendo que nos relacionamos o tempo todo com os espaços que ocupamos e com os objetos com os quais nos cercamos, reconstituímos uma sala com móveis e demais objetos de proveniências distintas existentes em nosso acervo museológico. Um dos temos explorados nesse espaço foi a importância da comunicação e da (re)construção de laços no local de destino; alguns objetos exibidos, como esta rádio vitrola, podem ser interpretados por essa perspectiva. Embutida em armário de madeira escura com tampo e entalhes (motivos florais e uma lira sobre tecido) bege, possui toca discos com braço e suporte ao lado esquerdo e potenciômetro com cinco botões ao lado direito. Por motivos de preservação da peça, ela encontra-se fechada em nossa exposição; já nas fotos, é possível observar também os detalhes em seu interior, ou seja, o rádio e a vitrola propriamente ditos.



Doada por Regina Carla Mendes de Brito, teria pertencido a seu avô, Sr. João Mendes, imigrante português – essa é uma das poucas informações que encontramos no processo de doação da peça. Sua origem está descrita como italiana (rádio), inglesa (vitrola) e brasileira (móvel); é possível que as partes tenham sido adquiridas separadamente, na Europa, e o móvel como um todo tenha sido montado aqui, mais especificamente, em Jaú, no interior de São Paulo, conforme conta em nossos registros. Um objeto como esse, bastante difícil de ser transportado, certamente era luxo em sua época que nem todos os imigrantes podiam bancar. O que pode significar ter um objeto como este em casa? Entretenimento, mas também status social ou econômico. Fonte de informação e notícias, gerando mais conhecimento e integração na sociedade. Já atualmente, rádios de menor porte são muito presentes em diversas comunidades migrantes que, por meio dos programas, se informam sobre eventos e se tornam mais conectadas entre si.
Além do rádio, os discos reproduzidos por este aparelho nos fazem pensar também na relação que temos atualmente com os dispositivos musicais. Os álbuns continham uma quantidade limitada de músicas, exigiam espaço para serem armazenados e ainda recursos financeiros para compra-los. Com a chegado dos CDs, o tamanho do suporte diminui e a facilidade do acesso também. Atualmente, streamings, internet e arquivos digitais são praticamente unanimidade, principalmente entre as gerações mais jovens. O acesso a informação é cada vez mais amplo e ao alcance de nossas mãos – literalmente, por meio dos aparelhos celulares. E nossas salas, teriam espaço para comportar um móvel deste tamanho? O mundo nunca pareceu tão pequeno; e é, na mesma medida, cada vez menor o espaço que ocupamos nele.
