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Vitrine do acervo: Castanholas
Em nosso acervo museológico, podemos encontrar objetos que nos remetem às experiências no deslocamento vinculadas a música. São inúmeros os instrumentos: sanfonas, marimba, discos de vinil, órgão, acordeom, banjo, flauta, alaúde, gaita, gramofone e partituras. Com eles, podemos perceber a sonoridade produzida por determinado material, descobrir as diferentes formas de uso do objeto, os processos de construção, assim como perguntar-nos sobre as simbologias e estéticas associadas.
Um desses instrumentos são as castanholas. Segundo a organologia (disciplina dedicada aos instrumentos musicais), esses objetos são instrumentos idiofónicos, ou seja, aqueles cujo material soa por si. Outros exemplos dessa família sonora seriam os sinos, chocalhos e gongos. É considerado um instrumento de percussão por produzir sons a partir de impactos, diferenciando-se daqueles feitos para serem soprados ou dedilhados. Pode ser feito de diferentes materiais como madeira, marfim, fibras e plástico. Nele, duas conchas acústicas são comumente amarradas por um barbante ou uma corda de material sintético.
A partir desta semana, vamos expor na Vitrine do Acervo do Museu da Imigração dois pares desse instrumento. O primeiro de cor preta, é feito de plástico. Em uma de suas conchas, está inscrito o desenho de um casal dançando. Em outra, encontramos o mesmo personagem masculino junto a um touro. Com diferente coloração, o mesmo tipo de representação pode ser encontrado na peça feita em madeira. Encontramos aqui então um forte vínculo estabelecido com símbolos espanhóis, acionados a partir de dois elementos mais difundidos da construção daquela identidade nacional: a dança flamenco e a tourada.


Chama a atenção o esmero dessas figuras, indicando no seu detalhe que provavelmente os desenhos foram feitos artesanalmente. Outro aspecto a observar são os desgastes. Na peça de plástico, não encontramos uma só marca que indique seu uso percussivo (por impacto). Já na de madeira, encontramos pequenos desgastes nas laterais, além de marcas concentradas nas pontas das conchas. O esmero dos desenhos, somado a essa falta ou menor presença de desgastes nos fazem questionar sobre o possível uso decorativo dos objetos, já que instrumentos do mesmo tipo utilizados em apresentações musicais não costumam levar tais desenhos e carregam consigo as marcas do uso contínuo.
É no som então que encontramos a conexão entre instrumentos musicais, o uso decorativo e as simbologias nacionais. Se por um lado, castanholas podem ser um instrumento musical de sonoridade específica que acompanha a dança; por outro, sua reduzida dimensão e características visuais podem torna-las itens decorativos, com alta capacidade de acionar imagens da identidade nacional espanhola. No uso decorativo, no entanto, a sonoridade não perde importância, já que com o estender das mãos se pode experimentar seu som particular. Assim, de modo decorativo ou acompanhando a dança, é no som que a castanhola se apresenta para nós como um objeto cheio de histórias.
E você? Já escutou o som de uma castanhola? A o que este som te remete? No link abaixo você pode encontrar alguns exemplos de sons feitos com esse instrumento.