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Arte migrante: 11 artistas e 11 obras em 2022 - Antônio Rocco
Por Gabriela Araújo
A obra Os emigrantes, do artista italiano Antônio Rocco, é um óleo sobre tela de grandes dimensões (202 x 131 cm). Foi pintada em 1910 na Itália e adquirida pela Pinacoteca do Estado de São Paulo em 1918. O quadro exibe uma família de migrantes pobres em um cenário de deslocamento, provavelmente ao cais de Immacolatella, em Nápoles, um dos principais portos de partidas de navios direcionados à América[1]. Trata-se de um olhar sensível sobre a pobreza e a incerteza da retirada da sua terra de origem em busca de uma vida melhor do outro lado do Atlântico.
Nascido em Amalfi (1880), comuna vizinha à província de Nápoles e não tão distante do porto citado, Antônio Rocco formou-se no Instituto de Belas Artes de Nápoles, onde foi aluno de Antonio Mancini, Domenico Morelli e Filippo Palizzi. Sob influência desses professores, iniciou os seus estudos em paisagismo e, posteriormente, produziu obras naturalistas e com temática social. Em 1913, Rocco migrou para o Brasil e trouxe na sua bagagem as obras Os Emigrantes e Os Mineiros. Em 1918, realizou uma exposição individual no Palacete Prates e, no mesmo ano, fundou a Escola Novíssima, em parceria com Nicolo Petrilli e Alberto Sironi, dedicada a produzir cursos voltados à educação profissionalizante e ao ensino público feminino.
Analisando a obra, é possível observar a escolha do artista por tons terrosos que remetem ao natural e à simplicidade. Interessante notar que as personagens em primeiro plano usam vestimentas simples e não direcionam o olhar ao espectador, exceto pela criança que caminha descalça. O homem, cabisbaixo, carrega o peso das trouxas e caminha à frente do restante da família. A mulher com a criança no colo direciona o seu olhar preocupado ao homem[2]. A cena apela à empatia do espectador e transmite a quem observa a impressão do ponto de partida em direção ao desconhecido[3].
Na cena retratada por Rocco, como cita Alexander Gaiotto-Mioshi em Iconografia de la Migración, "os imigrantes manifestam sentimentos diversos, entre os que prevalecem a preocupação e o desamparo, a serenidade e a paciência, a admiração com o novo e a esperança"[4]. O artista leva o espectador a refletir sobre as condições sociais dos italianos que decidiam migrar e "manifestou solidariedade a seus compatriotas"[5], buscando retratar o momento de deslocamento no qual as personagens parecem caminhar com pesar, ainda que a migração represente também a esperança de uma nova vida.
Referências:
[1] ROCCO, Antonio. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10038/antonio-rocco.
[2] COUTO, Maria Antonia. In: MARE: Museu de Arte para Pesquisa e Educação. São Paulo, 2011. Disponível em: https://mare.art.br/os-emigrantes/.
[3] SIMÕES, Gabrieli. Antônio Rocco e as representações da imigração. 2017. Disponível em https://www.ifch.unicamp.br/eha/atas/2017/Gabrieli%20Simoes.pdf.
[4] GAIOTTO-MIYOSHI, Alexander. "Iconografía de la migración: el caso de la acogida brasileña al cuadro Os emigrantes (1910) de Antonio Rocco". Revista Colombiana de Pensamiento Estético e História del Arte, nos. 8-9 (julio 2018, enero 2019): pg. 71. Disponível em: https://revistas.unal.edu.co/index.php/estetica/article/view/92195/77331.
[5] GAIOTTO-MIYOSHI, Alexander. "Iconografía de la migración: el caso de la acogida brasileña al cuadro Os emigrantes (1910) de Antonio Rocco". Revista Colombiana de Pensamiento Estético e Historia del Arte, nos. 8-9 (julio 2018, enero 2019): pg. 65. Disponível em: https://revistas.unal.edu.co/index.php/estetica/article/view/92195/77331.