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Arte migrante: 11 artistas e 11 obras em 2022 - Emilia Estrada
Texto da própria autora adaptado para este projeto.
Nascida em Córdoba - Argentina, em 1989, é artista e investigadora. Atualmente, reside no Rio de Janeiro.
O seu trabalho se desenvolve a partir do resultado de escavações nas camadas do tecido urbano e no gesto de desempoeirar imagens ou acervos confinados. Na sua produção, discute o processo de formação dos estados do território denominado como América Latina, indagando sobre o repertório simbólico que colabora na fundição dos imaginários dentro da produção da história.
As suas elaborações plásticas transitam por suportes e técnicas diversas, auxiliadas pela capacidade elástica da língua, investigando as possibilidades das fracturas da comunicação, donde la palabra es materia, vira estilhaço, camino e viagem.
Palestina
O serviço de pesquisa e visualização de mapas e imagens de satélite da Terra, gratuito na web e fornecido pela empresa estadunidense Google, disponibiliza mapas e rotas para ir de um ponto do planeta a qualquer outro sem importar a distância. Pero quando buscamos "Palestina" no Google Earth (versão 2018, prévio à sua última atualização), a Terra se movimenta, a seta viaja em direção Leste e cai no meio do Oceano Atlântico, como se tivesse acontecido um erro no sistema. Esse resultado equivoco relembra, ante tudo, que mapa não é o território, mas uma representação ideológica. É o resultado material do olhar que o poder dominante creia sobre o território, produzindo representações funcionais às narrativas hegemónicas.
Essa imagem faz parte da pesquisa que Emilia inicia em 2013 sobre o arquivo da própria família, proveniente de Nazaré, na Palestina histórica, no período prévio à ocupação sionista de 1948. A aparente negação da Palestina como território, objetivada na imagem do aplicativo, tem incitado a artista a procurar outros lugares possíveis de entendimento sobre a história das diferentes ocupações que ocorreram na América Latina, onde existem mais de 25 municípios, cidades, bairros e aldeias que foram fundados e batizados com o nome "Palestina".
Durante fevereiro de 2020, Emilia passou uma semana na cidade paulista de Palestina – a, aproximadamente, 500 km da capital –, recolhendo material historiográfico e produzindo registros fotográficos e audiovisuais, como entrevistas com os habitantes, orientadas, particularmente, a uma indagação sobre a imigração palestina.
O resultado da experiência e da pesquisa traz à tona outras narrativas ligadas à ampla história da ocupação do interior pelo regime colonial e, posteriormente, pelo projeto imigrantista do começo do século XX no Brasil. Um repertório amontoado, amalgamado e aglomerado de símbolos aparece na constituição do imaginário de uma "terra prometida", pouco relacionada com a procedência imigrante palestina e muito próxima aos efeitos históricos de projeto colonial.
Para informações sobre a artista e para conhecer outras obras, acesse: https://cargocollective.com/emiliaestrada.