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Arte migrante: 11 artistas e 11 obras em 2022 - J. Pavel Herrera
Texto do próprio artista.
Artista cubano, Licenciado em Educação das Artes Plásticas e Mestre em Artes Visuais pela UNICAMP. Até 2016 desenvolveu seu trabalho na Havana, Cuba e atualmente da continuidade a esses processos em São Paulo.
Trabalha fundamentalmente com a pintura e suas obras fazem uma abordagem dos diversos modos de representação da paisagem, ao mesmo tempo que estabelecem relações com os conceitos de território, fronteira, espaço e memória.
No Brasil participou da Residência Artística da FAAP, São Paulo 2016 e da 11na Bienal de Artes Visuais do Mercosul 2018, entre outros projetos expositivos individuais e coletivos.
"[...] Em Pavel, há um interesse pela paisagem que se reflete no trabalho que realiza.
Não se trata da forma como costuma ser representada, mas das diferentes formas e como podem ser entendidas, o que permite ao autor estabelecer “relações entre os conceitos de território, fronteira, espaço e memória”. Como centro de investigação artística, a paisagem torna-se para ele “um espaço que carrega memórias” que “estabelece conexões com vários processos na história dos contextos em que seu trabalho se desenrola”. Inevitavelmente, verifica-se que a obra apresentada reflete a marca dos fenômenos migratórios em Cuba e que a ideia da viagem, “como símbolo de fuga, de transgressão”, permanece em estado latente. É a percepção de um fenômeno impossível de ignorar -tanto da realidade da América Latina como do Terceiro Mundo- e que afeta Cuba. [...]"[1]
Nas obras, 7 noites 365 dias (2017), A distância entre dois pontos (2016- 2021) e Ponto de fuga III (2018), se estabelecem conexões com distintos momentos dos processos migratórios. A pesar de serem trabalhos motivados pelo contexto cubano, tem a capacidade conceitual, de se desdobrar em inúmeras situações pelo mundo tudo e tomar distância de qualquer marca auto referencial.
"[...] em 7 noites 365 dias é a cerca quem cumpre a função dicotômica de ponto de fuga e não fuga. Aqui é ela quem delineia a noção de paisagem, mesmo sendo um elemento construído para delimitar passagem. Porém, trata-se de uma delimitação temporal que se dá através das variações de sombra que existe entre cada uma das sete partes da série. Não há nada para se ver detrás daquela cerca além da espera. [...]"[2]
A distância entre dois pontos é um trabalho que se apropria de uma referência básica das matemáticas, com a finalidade de refletir entorno das fronteiras e os territórios. Desta forma levanta um sem número de questionamentos em torno aos processos migratórios, as condições em que acontecem estes movimentos que deixam marcas no percurso. Os desenhos, em aparência abstratos descrevem rotas migratórias dos cubanos a traves do território Centro-americano com intensões de chegar nos EUA e na Florida como centro da diáspora cubana pelo mundo. Se bem é conhecido que a distância mais próxima entre o território Norte-americano e o Cubano, pelo mar é de 90 milhas aproximadamente, estes gráficos mostram uma diversidade de caminhos, que nos levam a pensar em inúmeros acontecimentos e adversidades.
"[...] Encontramos a mesma intenção em outras obras também relacionadas ao espaço e ao movimento humano, sempre oferecidas de forma elíptica e simbólica, como Ponto de fuga (2018). A referência parte agora de um “passaporte pessoal”, através do qual o autor consegue uma peça de grande interesse pelas suas conotações imediatas e pelo que, do ponto de vista simbólico, contém. Ideia, por outro lado, notória em sua força expressiva e original. Vistas como um todo, as peças de Pavel podem parecer um tanto frias.
A frieza decorre da necessidade de manter a distância necessária em relação ao objeto de análise, cuja intenção ultrapassa o emocional para dar lugar aos processos reflexivos e cognitivos, finalidade essencial desse tipo de trabalho. [...]"[1]
Os processos migratórios devem ser entendidos como eventos traumáticos e é importante sempre apontar o dedo nas múltiplas causas entorno deles.
Referências
[1] Oliveras, José Pérez. Fragmento do texto crítico para exposição Sombras Migrantes. São Paulo, Galeria Quarta Parede, 2022. <https://galeriaquartaparede.com.br/exposicoes-sombras-texto-jose-perez-olivares> José Pérez Olivares, Sevilha, 8 de novembro de 2022.
[2] BORGHI, Paula. Fragmento do texto crítico para exposição Ponto de fuga. São Paulo, Galeria Sancovsky, 2017.