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Arte migrante: 11 artistas e 11 obras em 2022 - Naufrágio do Sírio
Em 4 de agosto de 1906, o vapor Sírio naufragou na costa da Espanha, próximo ao Cabo de Palos. A embarcação partiu de Gênova, na Itália, e tinha como destino Buenos Aires, com escalas programadas na Espanha e no Brasil. A maioria dos passageiros era italiana, mas existiam também migrantes de outras nacionalidades como gregos, sírios, libaneses, brasileiros, etc.
A notícia da tragédia repercutiu especialmente na Itália, Espanha, Brasil e Argentina. Entre as vítimas do acidente, estavam o arcebispo de São Paulo, Monsenhor José Camargo de Barros, que faleceu no naufrágio, e o arcebispo do Pará, Monsenhor Homem de Melo, um dos sobreviventes.
O quadro de Benedito Calixto, produzido em 1907, tem relação direta com a presença dessas duas autoridades no desastre. A obra foi encomendada pelo Cúria Metropolitana de São Paulo e, possivelmente, desenvolvida por Calixto a partir dos relatos de Monsenhor Homem de Melo.
Calixto nasceu em Itanhaém, litoral de São Paulo, no ano de 1853. Produziu pinturas com diversos temas como paisagens, cenas do cotidiano, históricas e religiosas. Segundo Emmanuel Guedes “pode-se, realmente, dividir a atividade artística de Benedito Calixto em três fases: a primeira dedicada às paisagens e marinhas; a segunda aos temas históricos que lhe eram particularmente familiares; e a última a assuntos religiosos que tinham íntima relação com o seu profundo espírito cristão e que ele conhecia tão solidamente como qualquer teólogo"[1].
Já Tadeu Chiarelli define Calixto como um pesquisador que pinta, "imerso na produção de um universo iconográfico para São Paulo e para a Igreja Católica (...) dividido entre a experiência de pintor paisagista - enternecido com as peculiaridades da paisagem litorânea de São Paulo - e aquela de pesquisador da história de São Paulo e da hagiografia, Calixto, um pesquisador que pinta, desenvolveu uma obra extremamente peculiar”.[2]
Por essa perspectiva conseguimos compreender melhor a obra Naufrágio do Sírio. A cena em destaque mostra o arcebispo de São Paulo absolvendo dois monges enquanto o arcebispo do Pará segura uma boia. Além disso, é possível observar as feições e gestos de desespero de vários passageiros. À esquerda, uma mãe corre com seu filho no colo, à direita um homem parece retirar seu paletó e ir em direção a água que invade o navio; uma família se abraça ao centro enquanto ao fundo da embarcação o artista retrata o caos tomando conta do Sírio.
Um artista peculiar e uma obra singular sobre um evento marcante na história das migrações para o Brasil.
1 GUEDES, Emmanuel. A arte de Benedito Calixto. Apresentação Emmanuel Guedes. [s.l.: s. n. ], 1946. 78 p. Disponível em: https://www.escritoriodearte.com/artista/benedito-calixto
2 CHIARELLI, Tadeu. Benedito Calixto: Um pesquisador que pinta. In: CALIXTO, Benedito; SOUZA, Marli Nunes (coord.). Benedito Calixto: um pintor à beira-mar. Texto Caleb Faria Alves, Tadeu Chiarelli. São Paulo: Fundação Pinacoteca Benedito Calixto, 2002, p. 33. Disponível em: https://www.escritoriodearte.com/artista/benedito-calixto
Por essa perspectiva conseguimos compreender melhor a obra Naufrágio do Sírio. A cena em destaque mostra o arcebispo de São Paulo absolvendo dois monges enquanto o arcebispo do Pará segura uma boia. Além disso, é possível observar as feições e gestos de desespero de vários passageiros. À esquerda, uma mãe corre com seu filho no colo, à direita um homem parece retirar seu paletó e ir em direção a água que invade o navio; uma família se abraça ao centro enquanto ao fundo da embarcação o artista retrata o caos tomando conta do Sírio.
Um artista peculiar e uma obra singular sobre um evento marcante na história das migrações para o Brasil.