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Arte migrante: 11 artistas e 11 obras em 2022 - Nicolás Llano
Texto do próprio autor para este projeto.
Nicolás Llano é um pesquisador interessado em mídias e processos de mediação sociotécnicas. Mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, com passagem pelos departamentos de Ciências Sociais e Mídia da Universidade de Copenhagen. Professor do MBA em Estratégias de Comunicação Digital da FGV e editor da Revista Rosa e do Programming Historian en español.
Marginália
A marginália oferece uma janela às particularidades do momento de encontro espontâneo entre o texto e o leitor. Se a força dos livros habita tanto no aspecto privado e íntimo da relação estabelecida entre o objeto, texto e leitor, quanto na capacidade de articular socialmente diálogos entre indivíduos, a marginália representa uma ponte natural entre esses estados. Um elo interativo e material entre a pessoa física e o texto, uma marca da transferência de ideias entre o autor e o leitor.
A primeira parte do projeto foi realizada durante a oficina Arquivo Vivo: Anedotas, organizada pela artista Maíra Dietrich e a CDP (Novembro – Dezembro, 2018), como parte das atividades realizadas pela plataforma ARQUIVO VIVO da Casa do Povo. Durante a oficina foi realizado um registro fotográfico de mais de 150 marginálias achadas em mais de 100 títulos que funcionou como material para produzir uma série de carimbos de borracha das marginálias coletadas, e uma publicação digital. Posteriormente ministrei uma oficina, em colaboração com o Parquinho Gráfico e Edições Aurora, durante a Feira de Publicações Independentes Tijuana. O resultado da oficina foram diferentes cartazes e um zine digital criados pelos participantes.
Clique aqui e visualize o PDF do zine digital.
Marginália é um projeto artístico que busca construir novos contextos de ativação e circulação de memórias coletivas e individuais, a partir da apropriação da marginália (marcas gráficas e textuais feitas nos livros durante sua leitura) encontradas nos títulos que compõem a biblioteca da Casa do Povo. A partir da coleta de marginalia encontrada nos títulos da biblioteca, foi produzida uma série de carimbos de borracha desses registros marginais e materiais gráficos (publicação e cartazes), com o objetivo de expandir as memórias do espaço físico tanto da biblioteca quanto dos livros, e construir novos diálogos intertextuais e multigeracionais com outros textos, leitores e práticas ligadas à literatura e as artes visuais.
Foi adotado uma versão expandida do significado do termo marginalia —notas, glosas e comentários feitos nas margens dos livros,— com o objetivo de integrar os signos gráficos realizados pelos leitores; isto é, marcas gráficas, desenhos, ou rabiscos das mas diversas naturezas feitos pelos leitores por diversas razões: assinalar uma passagem, destacar uma palavra ou representar graficamente uma resposta ao texto.
A composição histórica da biblioteca da Casa do Povo, fonte das marginálias coletadas, é constituída por mais de 4.000 títulos. Sua composição e histórias refletem de forma direta os eixos de ação da instituição, as diferentes fases vivenciadas nos mais de 50 anos de história, e a variedade de indivíduos que têm colaborado na sua formação. Portanto, a totalidade da biblioteca contém uma variedade de leitores, culturas e línguas que se vêem refletidas na diversidade de marginálias disponíveis. Em termos concretos, a biblioteca contém livros trazidos nas malas pelos imigrantes, traduções raras em ídiche, publicações independentes, doações de membros e de organizações que se juntaram para fundar a Casa do Povo, e até livros usados pelos alunos do Ignacio Israelita Scholem Aleichem. Em relação à sua composição temática, encontramos alguns eixos consolidados: literatura universal, livros de cursinho, autores socialistas, literatura e história para atividades educativas, literatura contemporânea (anos oitenta) e ciência política.