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Arte migrante: 11 artistas e 11 obras em 2022 - Tomie Ohtake
Por Bianca Alves da Silva
Tomie Nakakubo nasceu em novembro de 1913 na cidade de Kyoto, Japão, e faleceu em São Paulo no início de 2015, aos 101 anos.
Com o intuito de visitar um irmão no Brasil, desembarcou em Santos no dia 28 de novembro de 1936, após mais de 40 dias de viagem a bordo do vapor Buenos Aires-Maru. Impossibilitada de retornar ao Japão, em razão do início da Guerra do Pacífico[1], a jovem migrante permaneceu em São Paulo, onde se casou com o engenheiro agrônomo Ushio Ohtake.
Se inseriu no campo das artes a partir da década de 1950 e se tornou uma artista referência no país, com participações em mais de 20 bienais internacionais, 90 mostras individuais e quase 400 coletivas, com trabalhos em pintura, gravura, escultura e obras públicas, que realizou desde a década de 1980.[2]
Em 1988, a artista plástica inaugurou uma de suas obras mais significativas relacionadas ao tema da imigração. Localizado em frente ao Centro Cultural São Paulo (CCSP), o monumento é composto por quatro arcos extensos dispostos na Av. 23 de Maio, totalizando 40 metros de comprimento, e foi realizado em celebração aos 80 anos da chegada do primeiro grupo oficial de imigrantes japoneses no Brasil. Esse grupo, que viajou a bordo do vapor Kasato Maru, desembarcou no porto de Santos em 18 de junho de 1908.
Na estrutura proposta pela artista, a escultura maciça, separada em quatro ondas igualmente acinzentadas por fora, é preenchida por cores diferentes do lado de dentro, modificadas ao longo das restaurações. Nota-se que cada parte que compõe o monumento está levemente projetada uma à frente da outra. Assim, estão representadas as quatro gerações de Nikkeis no Brasil: os issei (nascidos no Japão), nissei (filhos de japoneses), sansei (netos de japoneses) e yonsei (bisnetos de japoneses).[3]
Ao longo da carreira de Tomie, algumas características das suas produções são marcantes tanto em obras públicas quanto em outros trabalhos. A presença de ondas, curvas, formas e escolha de materiais dialogam com o contemporâneo, mesmo quando a proposta é celebrar marcos históricos de décadas passadas.[4] A simplificação do monumento transita entre a efemeridade e a origem da artista, bem como tantos outros migrantes.[5] Logo, trazer movimento para um material tão inflexível quanto o concreto armado, recorda não só a dureza de um processo migratório, mas também a sensibilidade por trás dele.
Crédito foto da chamada: Site Instituto Tomie Ohtake.
Referências:
[1] Informação obtida na biografia da artista produzida pelo site do Instituto Tomie Ohtake. Disponível em: https://www.institutotomieohtake.org.br/o_instituto/tomie_ohtake.
[2] SUZUKI, Teiiti. "A imigração japonesa no Brasil." Revista do Instituto de Estudos Brasileiros 39 (1995): 57-56. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/article/view/72056/75297.
[3] Informação obtida na seção de monumentos paulistas do site da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=289122.
[4] GALLO, Alline Corona. "Tomie Ohtake na arte contemporânea." Anagrama 5.1 (2011): 1-18. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anagrama/article/view/35583/38302.
[5] ANGELIS, Carolina. “Tomie Ohtake: em memória da cidade”. Site do Instituto Tomie Ohtake, 14 julho 2015 a 14 fevereiro 2016. Disponível em: https://www.institutotomieohtake.org.br/exposicoes/interna/tomie-ohtake-em-memoria-da-cidade.