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Tecidos e afetos: orientações básicas para conservação de roupinhas e enxovais
Têxteis[1] são colecionados por muitas razões. Tapetes, indumentárias, gravatas, bolsas, sapatos, toalhas de mesa, panos, mantilhas, lenços são exemplos da variedade de objetos têxteis encontrados na nossa coleção. Ao serem incorporados às coleções institucionais, eles são valorizados por seu interesse histórico, seu apelo estético e seu significado cultural.
O mesmo processo acontece na esfera pessoal quando atribuímos valores simbólicos e afetivos aos vestidos de casamento, vestes de batizado, toalhas de mesa, roupinhas de bebês entre outros têxteis e os selecionamos para serem preservados e, muitas vezes, repassados para as gerações seguintes como herança familiar.
Por terem seu valor associado a uma pessoa, grupo, situação ou lugar, ou mesmo interesse nos objetos em si e em sua construção, é que buscamos as melhores estratégias para aumentar o tempo de vida de um objeto, diminuindo o impacto dos fatores que podem acelerar seu processo natural de degradação.
Dentre as ações básicas que podemos adotar individualmente para preservar nossas coleções pessoais, levando em consideração as limitações por questões práticas e orçamentárias, buscamos protegê-los da melhor maneira, de tantos perigos quanto possível. Isso significa mantê-los longe da luz, longe de umidade excessiva ou de ambientes muito secos, do calor excessivo, de insetos, de mofo e bolor, de poeira, poluentes e sujeira, do atrito, da tensão[2] e até certo ponto, longe deles mesmos, caso sejam constituídos por materiais que possam reagir entre si, estabelecendo estresse físico e causando interações químicas que os fragilizam e danificam.
Então de que forma podemos manter as roupinhas e enxovais seguros em nossa casa?
Uma das maneiras é garantir que sejam armazenados corretamente quando não estiverem em uso. A área em que serão guardados deve ser limpa, arejada, seca, escura e sem mudanças repentinas de temperatura e umidade. Podendo ser mantidos em cômodas e armários com espaço destinados para esse fim e separados de outros itens do uso cotidiano. As peças em tecido devem ser guardadas limpas, evitando que as partículas de poeira danifiquem suas fibras em longo prazo.

Higienização mecânica por aspiração. Os itens laváveis que tenham cor firme e estejam em boas condições podem ser lavados e aqueles que não puderem ser limpos de qualquer outra maneira, podem ser aspirados com um aspirador manual de baixa sucção, sobre uma superfície plana por cima de um tule e com bocal protegido.
Os trajes e enxovais podem ser guardados em caixas, na horizontal, sujeitos a um mínimo de abrasão, dobras e pressão. Mas se for necessário dobrá-lo, é preciso fazer o preenchimento dessas áreas para evitar vincos. Evite acondicionar itens sobrepostos, para que não sofram deformações pelo peso exercido sobre ele. Caso não seja possível, opte por acondicionar os itens menores e mais frágeis acima dos demais, separando-os com camadas de folhas de seda ou outro material neutro.
Eles devem ser removidos do armazenamento periodicamente para arejarem e serem inspecionados, assim é possível observar se há presença de algum inseto, mofo ou bolor. Como as fibras têxteis precisam estar em um ambiente onde haja algum movimento de ar, os tecidos não devem ser lacrados em sacos plásticos ou recipientes herméticos para evitar danos causados pela condensação de umidade. No entanto, precisam ser protegidos do acúmulo de poeira, geralmente ácida e que atrai umidade e insetos.
Não devem ser expostos à luz, pois as fibras e os pigmentos são danificados pelos raios de luz do sol e das luzes artificiais, podendo sofrer também alterações cromáticas, como amarelecimento e desbotamento da cor.
Devemos lembrar que a maioria dos papéis para embrulho apresenta acidez, aspecto prejudicial para os tecidos, por isso devemos dar preferência para a utilização de materiais neutros, como por exemplo, tecido de algodão puro não branqueado por processo químico ou mesmo TNT branco. Para sua embalagem, recomenda-se o uso de uma caixa limpa, resistente e neutra (que seja adequada ao tamanho da peça, evitando que as peças sejam dobradas, quando possível) e papel de seda branco e sem acidez para criar uma “cama” por baixo, entre as camadas e entre as dobras da peça.

A blusa de lã de bebê recebe preenchimento com roletes de seda neutra nas mangas para evitar vincos e fragilização da fibra nas partes dobradas. FIG. 4 – A folha de seda foi utilizada para interfoliar as partes que ficaram sobrepostas, evitando abrasão por atrito. FIG. 5 – A blusa foi acondicionada em uma caixa de plástico corrugado leitosa, forrada com folha de seda e posteriormente receberá uma tampa confeccionada em plástico corrugado.
A partir desses pequenos cuidados com a conservação é possível aumentar a longevidade das peças com as quais estabelecemos nossa memória afetiva, buscando garantir uma melhor preservação física para que possam ser acessadas por nossas gerações futuras.
[1] “A definição mais básica acerca do que é um têxtil, é que se trata de um material fabricado por algum tipo de processo de tecimento (...) O termo têxtil também pode ser aplicado a materiais manufaturados pelo entrelaçamento de fios, tais como objetos feitos pelo trançado, malharia e renda, bem como materiais não fiados, como feltros, nos quais as fibras ganharam coesão por tratamentos mecânicos ou processos químicos.” (LEENE, 1972, apud BITTNER, 2004)
[2] Referimos à ação da gravidade sobre uma peça, em tecido, quando mantida em suspensão. Exemplo: um vestido pendurado em cabide, a peça não resiste a seu próprio peso e gera tensão nas fibras, podendo causar deformação na região dos ombros e peito.