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Hospedaria de Histórias: As mais de 70 nacionalidades
Por Henrique Trindade
Nos materiais de divulgação do Museu da Imigração, que falam da história da Hospedaria de Imigrantes do Brás, é muito comum a presença do número de migrantes que passaram pelo edifício e as suas nacionalidades. Quem acompanha mais de perto as redes sociais do Museu, o Blog do Centro de Preservação, Pesquisa e Referência (CPPR) e os cursos oferecidos pela instituição já deve ter memorizado essas cifras: cerca de 2,5 milhões de migrantes e mais de 70 nacionalidades diferentes.
Entre 2016 e 2017, durante a pesquisa e curadoria da exposição Hospedaria 130, começamos a revisar alguns desses números e chegamos à conclusão de que a quantidade de migrantes acolhidos no edifício pode ser bem maior, por volta de 3,5 milhões de pessoas. Isso porque o número de brasileiros migrantes, especialmente, foi subestimado ou, até mesmo, não contabilizado. Projetos e desejos de pesquisa que surgiram pós-2017, como Brasileiros na Hospedaria, que ainda está em curso, têm como um dos objetivos precisar melhor alguns dados relativos à história da Hospedaria e de quem por lá passou.
Nesse texto, pretendemos apresentar o outro aspecto desses números: as mais de 70 nacionalidades. Delas ainda não há uma revisão, a princípio. No entanto, é importante apresentar como a população acolhida na Hospedaria foi extremamente diversa e não se resume apenas às nacionalidades mais conhecidas, como os italianos, portugueses, espanhóis, alemães e japoneses.
Já tivemos a oportunidade aqui no Blog de comentar sobre a chegada de norte-coreanos na Hospedaria em 1956. Há também uma indicação de que o último grupo de migrantes estrangeiros que a instituição recebeu era composto por sul-coreanos (números não contabilizados no Acervo Digital). Também discorremos sobre 700 gregos que foram matriculados no edifício em 1905 e o curioso caso de canadenses, em 1896. Até então, o número que temos para gregos na Hospedaria é próximo de 4 mil. Para canadenses e norte-americanos, 488 e 146, respectivamente.
Em 1900, a Hospedaria abrigou o primeiro grupo oficial de migrantes chineses no Brasil. Oito anos depois foi a vez do primeiro grupo oficial de japoneses. Muitos migrantes europeus tiveram outros países da América Latina como primeiro destino e, depois, se mudaram para o Brasil (o movimento contrário também ocorreu). Esses deslocamentos ajudaram a compor o quadro de nacionalidades da Hospedaria. Existem quase 400 registros de argentinos e mais de 80 matrículas para uruguaios, além da presença de venezuelanos, chilenos, paraguaios, bolivianos, equatorianos, colombianos, guatemaltecos, peruanos, cubanos, mexicanos, um costa-riquenho, um panamenho, um dominicano e um porto-riquenho.
Entre os europeus, há uma extensa série de nacionalidades. Alguns números podem causar surpresa, como os mais de 4 mil franceses e 11 mil poloneses. Junto deles encontramos migrantes provenientes de diferentes localidades, como Rússia, Inglaterra, Irlanda, Bélgica, Holanda, Áustria, Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Letônia, Lituânia, Estônia, Albânia, Bulgária, Romênia, Hungria, Luxemburgo, Malta, Armênia, Croácia, Escócia, Eslováquia, Eslovênia, Geórgia, Iugoslávia, Montenegro, Sérvia, San Marino, Tchecoslováquia, Turquia, Suíça e Ucrânia.
Do norte da África e Oriente Médio, a Hospedaria possui matrículas para um iraquiano, palestinos, israelenses, sírios, libaneses, egípcios, tunisianos e marroquinos. Do continente asiático, além das nacionalidades já citadas, existem ainda registros para iranianos e indianos.
Eis um mapa dos povos que ajudaram a escrever a história da Hospedaria de Imigrantes do Brás. Não podemos deixar ainda de citar os brasileiros e as muitas pessoas registradas como apátridas. Entender os contextos dessas migrações nos ajuda a compreender melhor a trajetória de uma parcela significativa do mundo entre o final do século XIX e o início do século XX.