Museo de la Inmigración
A Hospedaria de Imigrantes do Brás foi construída entre os anos de 1886 e 1887 para cumprir as seguintes funções: receber, acolher e encaminhar trabalhadores a postos de trabalho no estado de São Paulo. Na realidade, a Hospedaria era um complexo de edifícios, cada um com uma função específica. Atualmente, o Museu da Imigração ocupa parte dessa estrutura e apresentaremos aqui como eram esses espaços no passado.
A construção do edifício da Hospedaria de Imigrantes do Brás data de 1886 a 1888. Em 1908 ocorreu a primeira grande reforma, com ampliação dos espaços construídos para dar conta do constante aumento do fluxo de imigrantes e migrantes recebidos. No entanto, foi a reforma de 1936 que marcou uma mudança importante em sua arquitetura. A fachada, até então de tijolos aparentes, recebeu revestimento que deixou somente parte deles à mostra e as varandas vazadas foram substituídas por floreiras e grandes arcos. Data desse momento também a construção da fonte com duas rampas laterais, substituindo a escada que dava acesso ao pavimento térreo do edifício central.
Nas fotografias mais antigas, a frente da Hospedaria era ocupada por terreno não gramado e poucas árvores sombreando o edifício principal. Durante a reforma de 1936, esse espaço recebeu um projeto paisagístico bastante próximo ao que existe atualmente. Embora em fotografias um pouco anteriores a esse evento as duas figueiras-da-índia, já apareçam.
O portão que dava acesso à Hospedaria de Imigrantes do Brás e hoje é a saída de visitantes do Museu da Imigração foi registrado em poucas fotografias. O revestimento de tijolos aparentes e a arquitetura rebuscada que marcavam as primeiras imagens foram substituídos por um estilo semelhante ao do restante dos edifícios: paredes com revestimento e linhas mais simples.
Esse prédio era originalmente duas edificações que na década de 1930 foram unidas. Na parte esquerda ficava o posto policial “para garantir a tranquilidade do estabelecimento”, conforme observação de um visitante que aqui esteve em 1900. No prédio da direita havia a Agência postal, telégrafo e câmbio.
A finalidade primeira da Hospedaria de Imigrantes do Brás era organizar a imigração de mão de obra para São Paulo. Para isso foi construída em 1905 a Agência Oficial de Colonização e Trabalho dentro do complexo da Hospedaria. Em seu interior, trabalhadores eram informados das vagas existentes e podiam negociar com os contratantes suas condições. Quando necessário, intérpretes facilitavam o diálogo com os imigrantes.
Estando a Hospedaria às margens de duas importantes linhas férreas que partiam de Santos e Rio de Janeiro em direção ao interior do estado, o trem foi durante muitos anos o principal meio de transporte utilizado pelos imigrantes. Para dar conta desse fluxo, foi construída essa estação, que servia exclusivamente para o recebimento e encaminhamento das pessoas aqui acolhidas. Apesar dessa estrutura, alguns registros apontam que havia desembarques feitos nas estações Brás e Roosevelt, bem próximas daqui, e que os recém chegados vinham caminhando até a entrada principal, na rua Visconde de Parnaíba, acompanhados por funcionários da Hospedaria. Mais tarde, o transporte terrestre por caminhões, ônibus e paus de arara tornou-se predominante.
Ao chegar à Hospedaria, a primeira parada de imigrantes e migrantes era no serviço de recebimento de bagagens, essas importantes companheiras de viagem, com referências essenciais dos locais de origem de estrangeiros e brasileiros recém chegados. Em malas, baús, sacolas e arcazes eram transportados itens considerados importantes para a manutenção de ritos cotidianos, como alimentar-se, vestir-se e trabalhar, além de objetos definidores de identidades: fotografias, diários, itens sentimentais ou de rituais. Perdê-los de vista à chegada na Hospedaria era perder parte da própria história e porque não, todo um patrimônio. Acreditava-se que as bagagens vinham também impregnadas por bactérias e vírus transmissores de doenças. Para tentar minimizar esses problemas, um setor era responsável por sua recepção, desinfecção e redistribuição.
Neste espaço os imigrantes e migrantes recém-chegados faziam seu registro na Hospedaria. Esse procedimento burocrático consistia em entrevistas com os ingressos, verificação de informações em documentos pessoais e nas listas de bordo dos respectivos navios, no registro de seus dados sumários no livro de matrícula e na entrega dos cartões de permanência. Funcionários da Hospedaria, como escriturários e tradutores, acompanhavam o procedimento. Para a espera da realização desse processo, longos bancos de madeira eram dispostos pelo ambiente.
A varanda da Hospedaria, que dava acesso às salas que ficavam no térreo, foi descrita por um visitante em 1890 como “felicíssima para abrigar os imigrantes nos dias chuvosos”. Com a reforma de 1935, o guarda-corpo foi substituído pelos arcos e canteiros, que ainda hoje caracterizam a fachada do edifício.
As atividades administrativas da Hospedaria eram realizadas nos vários escritórios que recortavam o espaço do térreo do edifício central. Controle dos fluxos de chegada e saída, aquisição de bens a serem utilizados internamente, gerenciamento da Hospedaria, estatísticas de imigração e outras atividades eram desempenhadas pelos funcionários que trabalhavam nesses locais.
No primeiro andar havia quatro vastos dormitórios, com capacidade para abrigar 150 pessoas em cada, além de outros dois que ficavam no térreo. O mobiliário variou ao longo dos anos de funcionamento da Hospedaria: esteiras, camas e beliches serviram de leito para imigrantes e migrantes. Uma das principais preocupações era com a higiene, por isso as roupas de cama eram periodicamente trocadas e lavadas e a limpeza de chão, constante. Durante o dia, os dormitórios eram fechados, sendo permitida a permanência apenas dos que, por razão de idade, cansaço ou indisposição, necessitassem de repouso.