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Planejamento e Desenvolvimento de Projetos Educativos
Gabriela dos Santos - Supervisora do educativo
O planejamento de um projeto cultural, desenvolvido e executado pelo núcleo educativo, visa a ampliação de um diálogo que, muitas vezes, não consegue ser abordado em uma única visita. Requer, tanto do educador quanto do público, uma imersão sobre o tema a fim de mitigar um problema, democratizar o acesso à informação ou fomentar uma discussão.
A execução de um projeto educativo desse tipo, dentro de um espaço museal, pode ocorrer das mais variadas formas e formatos, principalmente quando tem como objetivo atender o público escolar. Há diversas considerações sobre os impactos que projetos educativos podem ter tanto nos espaços museais quanto no ambiente escolar diário. Tais ponderações não se limitam apenas à integração com os currículos escolares ou à criação de exposições, indo além dessa relação recíproca e contribuindo para a ampliação de discussões e o surgimento de novas perspectivas.
Assim, torna-se viável conferir uma materialidade ao conteúdo abordado em sala de aula, apresentado de maneira variada. Em várias ocasiões, o estudante transcende o método convencional de ensino e percebe-se como um indivíduo com a capacidade de trazer a discussão para o cerne de sua própria realidade, assumindo uma postura autônoma em relação aos processos que permeiam a sociedade em que está inserido.
Locais de memória, instituições culturais, museus e bibliotecas frequentemente são ambientes de aprendizado, não apenas devido aos seus acervos ou à sua localização em edifícios históricos, mas também por seu potencial de influenciar uma transformação social [1]. Eles devem servir como catalisadores para a compreensão do direito à cultura, um aspecto que deve ser continuamente explorado, fazendo com que os alunos percebam que são parte integrante desses espaços, e o acesso a eles constitui um direito, conforme afirmado por Antonio Candido [2], que considera a cultura um direito inalienável de cada indivíduo. Contudo, é importante pensar que o acesso a esses locais não está vinculado à concepção tradicional de busca por conhecimento. A finalidade desse acesso a esses ambientes pode incluir a promoção de um pensamento crítico, ultrapassando a simples emoção da contemplação.
Refletir sobre o ambiente em que se habita, assim como o território escolar e outros locais públicos na cidade, representa uma ferramenta política que fomenta o senso de pertencimento, especialmente em estudantes de escolas públicas. A interação precoce com esses ambientes, por meio de projetos educativos, transforma a experiência de visitar museus e espaços culturais em uma realidade que transcende as tradicionais excursões escolares, as quais também têm sua relevância. Contudo, um projeto desse tipo estabelece vínculos e possibilita uma convivência, mesmo que breve, com a rotina de um espaço cultural. Dado que a cultura é algo compartilhado [3] e que todos os indivíduos são agentes culturais, projetos educativos envolvendo escolas e museus despertam o interesse dos alunos pela cultura como uma esfera de lazer e também como uma potencial área de trabalho. Assim, esses projetos não apenas dirigem o olhar para o espaço em si, mas também promovem a compreensão desses locais como entidades sociais e suas temáticas como questões integradas ao cotidiano, mesmo em um museu histórico.
Considerando que museus são espaços de sociabilidade, o bom desenvolvimento de um projeto é resultado de uma prática educativa. Essa prática pode ser desenvolvida de diversas formas, indo além da mera exposição do acervo e da tangibilidade de objetos, e incluindo a criação de materiais educativos em uma ampla variedade de formatos, que vão desde cartilhas até reproduções manipuláveis. O propósito é aprimorar a experiência do público com o museu.
Segundo Cerezuela [4], um projeto cultural constitui uma sequência organizada de decisões relativas a tarefas e recursos, direcionadas para atingir objetivos específicos em condições determinadas. Ao aplicarmos essa perspectiva a um ambiente museológico, deparamo-nos com diversas possibilidades e cenários. Frequentemente, a primeira consideração que nos ocorre são as adversidades. No entanto, é crucial que um projeto cultural mantenha a noção de ser uma ferramenta coletiva [4]. Nesse sentido, o projeto cultural representa o percurso escolhido para alcançar nossos objetivos, sendo as etapas do projeto os meios pelos quais trilhamos esse caminho. Esse percurso destaca a natureza coletiva de um projeto cultural bem-sucedido, especialmente quando os recursos disponíveis parecem limitados para concretizar nossas aspirações.
Ao considerarmos o contexto dos museus, é fundamental não apenas definir claramente nossos objetivos, mas também compreender os recursos disponíveis para o projeto. Com frequência, deparamo-nos com situações em que as instituições enfrentam limitações de recursos, muitas vezes buscando apoio em editais de fomento. Nos museus paulistas, como o Museu da Imigração, esses recursos desempenham um papel crucial na concretização desses projetos.
Dado que o projeto cultural é uma empreitada coletiva, ele deve servir como um guia orientador para todos os participantes do processo, fornecendo um recurso de consulta em momentos de dúvida [4]. Por esse motivo, ele precisa ser flexível e capaz de se adaptar, permitindo modificações sem perder de vista o fim estabelecido. O projeto concretiza os diálogos com todos os envolvidos no processo e materializa as ações planejadas.
Um exemplo desse tipo de projeto é o "Museu vai à Escola", desenvolvido pelo setor educativo do Museu da Imigração, em 2016. Atualmente, o projeto evoluiu em termos de formatos e expandiu suas capacidades de atuação e alcance, graças ao financiamento concedido pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) nos anos de 2022 e 2023. Contudo, é fundamental destacar que, mesmo diante das alterações, essa iniciativa preserva a memória de todos os educadores que contribuíram para suas iniciativas, reforçando a premissa de que um projeto cultural é sempre um esforço coletivo.
Apesar das diversas abordagens adotadas, o principal propósito do "Museu vai à Escola" sempre foi explorar questões contemporâneas relacionadas às migrações, tais como o combate à xenofobia, ao racismo e outras formas de violência no ambiente escolar. Nos últimos anos, essa abordagem considerou especificamente a realidade da educação pública na cidade de São Paulo. As atividades realizadas no âmbito do projeto resultam de uma atenta escuta das diferentes situações apresentadas pelos professores e coordenadores das escolas participantes. Os resultados refletem as percepções dos próprios alunos em relação aos temas discutidos durante as ações.
Acreditamos que os museus desempenham um papel fundamental na promoção da diversidade e sustentabilidade, oferecendo diversas oportunidades para educação, apreciação, reflexão e compartilhamento de conhecimento em prol da sociedade. O projeto "Museu vai à Escola" representa uma das iniciativas colaborativas desenvolvidas pelo setor educativo do Museu da Imigração para alcançar a meta de ampliar perspectivas na construção de uma sociedade mais justa, generosa e colaborativa. Comprometemo-nos com a educação pública, cultura e conscientização, com o objetivo de enriquecer a experiência educacional dos alunos participantes e fortalecer a ligação entre o aprendizado em sala de aula e o mundo ao nosso redor.
Referências
[1] SANTOS, Gabriela. Para além dos muros do Sobrado Major Selemérico. 2022
[2] CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários Escritos. São Paulo: Duas Cidades. 2004
[3] WILLIAMS, Raymond. Cultura e sociedade: 1780-1950. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969.
[4] CEREZUELA, David Roselló. Planejamento e avaliação de projetos culturais: Da ideia à razão. 2016