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Costurando dignidade
“Deveras se vê que o viver da gente não é tão cerzidinho assim?”
João Guimarães Rosa
Costurar é um ato de construção; planejar, moldar, recortar, ajustar, desfazer, refazer, alinhavar. Na exposição "Costurando dignidade", inaugurada em 5 de abril, apresentamos a história de algumas mulheres que romperam o silêncio para mostrar a trama de suas vidas em meio ao trabalho e cotidiano em uma oficina de costura, fotografadas por Chico Max.
O estabelecimento de uma vida profissional satisfatória é algo difícil para inúmeras pessoas que vivem no Brasil. Quando se é migrante, essas dificuldades são acrescidas de outras: os entraves linguísticos, a falta de uma rede de contatos, questões de documentação e validação de diplomas. Quando se é migrante e mulher, ainda mais obstáculos são acumulados: o machismo e todas as formas de violência dele decorrentes, a criação dos filhos e a manutenção da vida doméstica.
A costura como fonte de renda foi uma atividade muitas vezes desempenhada por mulheres migrantes ao longo de nossa história; era um ofício que podia ser desenvolvido em casa, sem grandes burocracias. Atualmente, a falta de regulamentação e a interiorização deste trabalho têm mostrado uma faceta bastante grave: trabalhos informais, precários, totalmente invisibilizados. Você sabe quem fez as roupas que você usa? E em quais condições? Quem são essas pessoas, quais são seus sonhos, anseios e expectativas?
Aqui, no Museu da Imigração, propomos uma experiência contrária àquela do mundo lá fora, em que vemos tanto, menos os trabalhos dessas mulheres. Aqui, elas são as protagonistas. São as agentes de suas próprias trajetórias. Moldando, ajustando, desfazendo e refazendo planos; alinhavando, costurando e recosturando suas histórias em meio a essa intensa tarefa que é viver.